Nossas últimas danças:
Criança Também Dança #52 | Sobre se abrir para novas amizades
Criança Também Dança #51 | Uma rotina caoticamente maravilhosa
Criança Também Dança #50 | Relato de Parto
Faz pouco mais um mês desde nossa última edição. Sentimos muito e sentimos falta, mas finalmente voltamos. Não foi um afastamento planejado. Simplesmente não conseguimos escrever.
Nosso dia a dia, como viemos relatando desde o parto da Mia, tem sido bem agitada.
Totalmente desencaixotados em nosso novo apartamento, parece que finalmente estamos retomando algo parecido com uma rotina.
Paz no caos
Por Felipe Carvalho
Faz tanto tempo desde a última vez que escrevemos… ao mesmo tempo tanta coisa aconteceu… sinceramente, não sei nem por onde começar.
Tivemos a Mia. Nos mudamos. Cá estamos.
A chegada da Mia foi incrível, como relatamos na News sobre o parto. Ela é perfeita. Mas os dias seguintes não foram tão fáceis assim. Luca estava com uma otite quando ela nasceu, portanto não foi tão fácil. Ele com muita febre e muita tosse. O que foi legal foi o amor que Luca sempre mostrou por ela, desde a primeira vista no hospital. Querendo pegá-la, beijá-la, trocar sua fralda. O problema é que, como eu disse, ele estava com uma crise de tosse muito forte. Querendo beijá-la e dar todo o amor do mundo, muitas vezes ele acabava tossindo na carinha dela. A Mia não estava pronta para isso. Então em menos de 10 dias ela ficou gripadinha também. Foi tenso. Isso perdurou. Afinal o próprio Luca ficou doente por uns 40 dias. Depois foi a Isa, depois eu… foram momentos difíceis em que nós 4 estávamos mal.
Mia está com quase 3 meses e ficou mais tempo de vida gripada do que o contrário.
Agora ela está ótima. Inclusive dormindo em meu colo enquanto eu escrevo. Mas foi um período complicado. A gente mal conseguia dormir direito.
Luca começou com antialérgico, passou para corticóides, parou com os corticóides, voltou para os corticoides… e finalmente entrou no antibiótico. Passou.
Quando o dele passou, o dela também. A pediatra sempre falou que o maior perigo para uma recém-nascida é o contato muito próximo com outras crianças.
Pra esse período de transição ser mais leve para o Luca, procuramos sempre manter sua rotina, e ele sempre frequentou a creche, voltando pra casa todos os dias com uma nova onda de catarro e tosse.
Mesmo com as ressalvas da pediatra, a gente nunca nem cogitou separar os dois.
É complicado separar pois, qual o limite, ou melhor, como equilibrar o fato de que ele deveria interagir com ela, fazendo com que eles possam criar e fortalecer esse vínculo de irmãos, mas ao mesmo tempo protegê-la de todas essas doenças? Na dúvida, optamos arriscar e deixá-los juntos sempre que possível.
Foi uma fase em que dormíamos em quartos separados. A ideia era que pelo menos durante a noite teríamos essa ressalva, esse alívio, já que o Luca ainda estava na cama compartilhada.
Mas não tem nem teve jeito.
A coisa mais linda do mundo era o Luca querendo dar beijo na Mia. Sério, dava vontade de chorar todas as vezes - ainda dá.
Mas… às vezes (sempre), no meio do caminho, quase chegando na bochecha dela, vinha aquele acesso de tosse bem forte. Bem pertinho. No rostinho dela.
Pelo menos ensinamos o Luca a colocar a mão na frente quando for tossir. Quando ele quer.
Então veio a mudança de apartamento.
Nossa maior preocupação sempre foi fazer tudo da forma mais leve possível pro Luca. Para que ele não sentisse tanto nem a chegada da Mia, nem nossa saída do apartamento que ele cresceu e que vivemos tanta coisa.
Nós sempre conversamos muito com o Luca sobre tudo.
Desde coisas menores como “filho vou te pegar no colo agora para trocarmos a fralda” até grandes mudanças, tipo a chegada da Mia.
No caso da chegada da Mia, foram os vários livros – além da crescente barriguinha da mamãe – que nos ajudaram (recomendo muito o “A irmã do Gildo” e “Lulu lê para o Zeca”).
No caso da mudança, foram as caixas, as coisas saindo dos lugares, a casa ficando vazia e claro, o próprio Luca nos ajudando a encaixotar tudo.
Fizemos muitas viagens para trazer as coisas e foi um processo demorado e longo até este fatídico dia em que finalmente fizemos a “operação mudança". Mas fizemos questão de priorizar o quarto do Luca todo arrumado com seus brinquedos favoritos expostos, pra ele já se familiarizar logo.
Deu certo.
Nos primeiros dias, até teve algum choro de "quero ir pra casa papai". Mas foi rápido, foi leve.
Ele nunca mais comentou sobre a casa antiga e parou de chamar nossa casa de “casa nova”. Agora é “casa”.
Lar, morada. Presente e futuro. Amor.
Além disso, ou seja, além de apenas falar, nós sempre fizemos questão que ele participasse de fato.
Ele nos ajudou a empacotar coisas, nos ajudou a colocar as caixas no carro– do jeitinho dele, levando caixas vazias às vezes. Mas levou – e a subir para o apartamento. Como sempre, ainda fiscalizou tudo: “Pegou tudo papai?” “não pode esquecer nada, hein” ou então “bota aquela caixa naquele carro papai”.
Agora aquela pausa necessária no relato para ressaltar pela enésima vez nossa rede de apoio aqui.
Como sempre contamos com a vovó Lelê e seu carro. Dessa vez também tivemos ajuda da amiga Letícia (e família - valeu Leandro!) que não só nos ajudaram a subir e descer com coisas do apartamento antigo para carro, ou do carro para o apartamento novo, mas também simplesmente nos ajudaram a desempacotá-las.
Sim, tivemos ajuda da Lele, da Le e do Le.
Sério, vocês são demais.
Sem contar as várias pessoas que se ofereceram para nos ajudar, o que por si só já é uma grande ajuda.
Obrigado gente, amamos vocês.
No meio dessas mudanças todas também teve meu emprego novo.
Que ocupa metade do meu tempo do dia. Mas que também deu e está dando super certo.
Logo de cara, na minha contratação acordamos que eu iria me atrasar um pouco na chegada. Na verdade, mudamos o horário. Era pra ser às oito, mas passamos para às oito e meia, pois expliquei que às oito eu preciso deixar meu filho na creche.
Deu certo.
Às vezes, não dá tão certo... pois, pai de dois e eu acabo me enrolando todo e mesmo com esse “atraso combinado" eu ainda me atraso para o atraso. É o famoso “me atrasar com calma".
Como vocês sabem, tem dias que são mais fáceis do que outros.
Resumindo, tem dias que o filho colabora com o horário do tempo mundo, mas tem outros que ele prefere colaborar apenas com seu próprio tempo.
É um mix entre “deixá-lo ter autonomia” versus “preciso chegar no horário”.
Aquele caos gostoso.
Um bom exemplo é para a sua escolha de roupas. O Luca está começando a escolher suas próprias roupas. Tem dias que é lindo. Faz tudo rápido e objetivo. Sem muita contestação de nada. Mas… tem dias que complica. Nenhuma roupa presta, ou só presta a roupa que está lavando/ficou na casa da avó. E às vezes quando ele escolhe seu look eu tenho medo de sermos enquadrados pela Lei Maria da Moda.
Gostaria aqui de agradecer de coração à minha chefe, Alice, por ser tão compreensiva e parceira. Obrigado, Alice. Tudo tem dado muito certo também graças à sua forma de compreender o que estamos passando aqui em casa.
O que falar então, de Luca e Mia.
Primeiro que a Mia não tira o olho dele.
Ela o acompanha com seus olhos azuis arregalados e fixos nele. Em cada movimento dele.
É tão lindo.
Não precisamos nem fazer aquela volta de chocalinho no “tommy time” porque ela já faz isso acompanhando as peripécias de seu irmão (que não para e que bom).
Além disso, é muito lindo de ver o carinho que ele tem com ela. Os infinitos beijos, o carinho que às vezes é um pouco forte demais, as brincadeiras – que às vezes também é, porque ele sobe em cima dela e temos que correr desesperados pra tirá-lo dali, mas faz parte.
O melhor é quando vamos sair e ele me manda parar e fala “Peraí papai, tem que dar beijo na Mia!”.
Claro que nem tudo são rosas, orquídeas, ou sequer flores.
Tem horas que é complicado.
O Luca puxou o pai: é dengoso. Principalmente na hora de dormir, ou quando está com fome. Fome e sono são os dois piores momentos do Luca (de quem não é?).
Nessas horas é que ele grita e chora. Nessas horas que ele pede “tira a Mia daqui”.
Mas é super normal.
Todo mundo tem horas que quer mesmo é ficar sozinho, ou ficar sozinho com papai e mamãe (principalmente mamãe).
Tem horas que ele sente, porque ainda dói ver a Mia mamando, ou dormindo no colo da mamãe.
Tem horas que são mais difíceis de compartilhar a mamãe.
Eu te entendo filho. Só você sabe o que você está sentindo e o que você sente. Mas eu e a mamãe vamos estar sempre aqui.
Teve um dia específico, que foi mais difícil para ele.
Neste dia ele pediu “eu quero que a Mia volte pra barriga da mamãe”.
É difícil vê-lo com essas dores.
É compreensível ao mesmo tempo que é difícil de lidar.
A gente procura acolher sempre. Do jeito que dá e quando ele deixa.
Tem dias que bate mais forte e ele fica inconsolável.
Eu sempre procuro conversar com ele, tentando trazer pro consciente a dor que ele está sentindo no peito, perguntando coisas do tipo “filho, por acaso você está chateado que a Mia está no colo da mamãe?”
Às vezes ele diz “sim”.
É foda.
Já falei e repito, tentamos sempre acolhê-lo como e quando podemos.
Mas dói também. Às vezes eu e Isa nos olhamos sem saber o que fazer.
Nós quatro estamos nos adaptando à todas essas mudanças.
Nós quatro estamos aprendendo a viver assim.
Nós quatro estamos nos desenvolvendo a cada dia.
Às vezes eu também choro. Nem sempre por causa da dúvida. Às vezes por causa de tudo.
A verdade é que tudo isso é muito bonito de ver e viver.
Tem tantas coisas incríveis acontecendo ao mesmo tempo. Meu trabalho, meus filhos, nossa casa, minha companheira, minha vida, nossas vidas.
Mas tudo isso pra dizer que, supreendentemente, na mesma medida que tem sido intenso, tudo também tem sido tão maravilhoso.
Esse “maravilhosamente caótico” ou “caoticamente maravilhoso” parece que vai nos acompanhar para a vida inteira.
Tomara.
Nunca fui tão feliz.
“Cada dia é uma chance pra ser melhor que ontem”
Emicida