Criança Também Dança #54 l Vamos conversar?
Estamos há um tempo falando, mas não muito, talvez procrastinando, que gostaríamos de fazer mais que só escrever nossa newsletter. Queremos conversar sobre elas. Bora?
Nossas últimas danças:
Criança Também Dança #53 | Voltamos
Criança Também Dança #52 | Sobre se abrir para novas amizades
Criança Também Dança #51 | Uma rotina caoticamente maravilhosa
Vamos nos encontrar pra conversar?
Antes do texto de hoje, é isso mesmo, queremos conversar com você que está nos lendo, com todos vocês!
Quando?
Decidimos que nosso primeiro encontro ao vivo-porém-virtual será quinta-feira, dia 28 de novembro (terça-feira que vem, será um “encontro piloto”), das 19h às 20h (também debatemos sobre esse horário que possivelmente envolve dar jantar/colocar a criança pra dormir, mas não chegamos a nenhuma opção melhor que essa. Depois nos deem um feedback do que poderia funcionar melhor).
Pra que?
Queremos conversar e trocar sobre a experiência parental e como o Criança também Dança tem feito parte dessa jornada na vida de vocês. Alegrias, medos, desafios, angústias, surpresas. Sim, bastante coisa pra uma horinha né? Por isso vamos ter um roteiro pra conduzir o nosso encontro e se der certo prometemos que esse será só o primeiro de muitos.
Onde?
Você pode se inscrever mandando um e-mail com o título “To dentro! Encontro Criança também Dança” para criancatambemdanca@substack.com
Só nos avise se pretende participar sozinhe ou em casal já que para garantirmos a qualidade do nosso encontro e das conversas teremos um limite máximo de participantes.
No dia vamos enviar o link para todos os inscritos :)
Pra quem é?
Pra todos vocês que estão aqui - mãe, pai, grávida, tentante, pessoa sem filhos, que pretende ter filhos ou que não pretende ter filhos. Queremos conversar sobre os dilemas e desafios de educar sabendo que educar é responsabilidade coletiva. Mais do que qualquer coisa, queremos fazer uma pausa na rotina louca, caótica e corrida para trocarmos e escutarmos uns aos outros.
Bora?
Bom, sobre os textos de hoje, tentamos falar um pouco sobre as dificuldades e diferenças entre criar e educar nossos filhos.
Um dia, estamos preocupados se ele vai virar e ficar com a cara no travesseiro, no outro ele está empurrando a cadeira para pegar as coisas que você colocou “fora do alcance" dele em cima da mesa.
De repente, nos pegamos entendendo que agora não é mais só sobre sobreviver. É sobre crescer, se desenvolver e entender os limites da vida. Com firmeza e amor. Mas nem sempre.
Falamos também sobre a importância de poder ter alguém com quem se pode contar e dividir a vida. Sobre a parceria. Sobre o amor que envolve tudo isso.
Parceria
Por Isabella Herdy
Teoricamente eu estava trabalhando. Não só teoricamente, na prática também. Eu estava trabalhando, enquanto você cuidava da nossa filha. Eu estava no escritório enquanto escutava você na sala tocando ukulele pra Mia, coisa que você fazia o tempo todo pro Luca. Aí estava vendo um instagram (à trabalho) e bom, você sabe, no instagram, assim como na internet como um todo, basta um clique pro que era trabalho virar fofoca, e cheguei numa foto de celebração de sete anos de casamento com a seguinte legenda: I just love doing life with you (eles são gringos).
É difícil eu achar algo escrito em inglês realmente bonito. As línguas latinas dão um baile de beleza e estética nas anglo-saxônicas, mas eu achei essa frase linda porque eu acho que é isso. Eu amo fazer a vida com você, meu amor. Eu amo fazer a vida com você em todos os tantos significados que essa frase pode ter. Eu amo criar vidas, viver a vida e construir a nossa vida com você. Eu amo te ter ao meu lado pra juntos enfrentarmos isso que chamamos de vida.
Nos melhores dias eu penso no tamanho da nossa sorte. Nos piores eu penso como deve ser difícil, pra não dizer impossível, enfrentar tudo isso sem um parceiro pra chamar de seu.
Quando tá tudo um caos, você dá conta das crises de choro do Luca enquanto eu troco a fralda e arrumo a bolsa da Mia e eu penso o quanto somos também um time. É claro que depois eu berro “você não tá pronto ainda???”, sabendo no fundo que é claro que você não tá pronto, são duzentas coisas pra fazer antes de sair de casa e mesmo fazendo todas elas, o seu ritmo é outro, mas é o poder do hábito de gostar de colocar culpa em você pelo nosso atraso.
Quando as viroses chegam, e elas tem vindo com bastante frequência, temos um ao outro pra decidir o que fazer. Quando eu só quero sentar e chorar, eu tenho você pra falar que eu sou muito incrível de um jeito que fica óbvio que você tá exagerado, mas eu aceito mesmo assim.
Eu to escrevendo esse texto porque eu já tinha começado a primeira parte dele sem saber muito onde iria dar. E aí tive aquela sessão com o meu analista em que ele falou “então parece que o que você tá me falando é que o Felipe é realmente seu parceiro né?”, e era exatamente isso que eu estava falando. E aí ele me perguntou como a gente se conheceu e eu contei a nossa história rindo e cheia de energia como sempre gostamos de contar e ele sugeriu que eu escrevesse sobre a nossa relação, coisa que eu já estava fazendo sem muito me dar conta.
E aqui estamos, porque essa edição era pra ser sobre conflitos educacionais e não daria pra falar sobre isso sem passar pela nossa parceria de qualquer forma, em que mesmo quando discordamos nos respeitamos. E mesmo quando estamos dando uma bronca no Luca, nos olhamos cúmplices, tentando não deixar ele perceber, que na verdade estamos prendendo o riso.
Essa edição é pra falar que eu não saberia ser mãe se não tivesse Felipe como pai. Ou saberia porque eu sou mulher e a gente sempre dá um jeito, mas certamente eu seria uma mãe pior. Provavelmente menos amorosa, menos compreensiva e ainda menos paciente.
Nesse turbilhão que é dois filhos pequenos, um segundo puerpério, muito trabalho, muitas demandas e muitos boletos pra pagar, eu quero registrar aqui que adoro a nossa história de amor porque eu amo fazer a vida com você.
Que fase
Por Felipe Carvalho
No início, era levantar de vez em sempre durante a madrugada, ficar parado observando o movimento sutil da barriga, que as vezes era necessário colocar a mão pra ver se ainda respirava. Vez em quando, após encostar em sua barriga, ele acordava - e eu saía correndo para a Isabella não me culpar por isso.
Depois, era levantar de vez em sempre pra sair em disparada após ouvir qualquer pio, brisa ou aragem - jurando ser alarido, azáfama ou estrondo - pra ver se ele havia virado de cabeça para baixo e ainda respirava. Vez em nunca, ele havia se mexido. Sequer um centímetro. Vez em sempre, o som vinha de minha cabeça.
Sucessivamente, os desafios - que não são poucos nem fáceis - de sobrevivência vão se transformando com o tempo. Algo que era tão cotidiano e banal se transforma em lembrança.
A gente sente falta disso.
São fases. Toda fase tem seu lado bom e seu lado que podia aprimorar.
E todas são únicas.
Mas então o tempo faz com que toda fase passe por uma metamorfose e mude completamente seu âmago. Os únicos estados que não sofrem mutações são os de atenção, cuidado e amor.
Então, a preocupação passa de um estado físico de sobrevivência, para mental, de caráter e personalidade.
Passamos da fase de criar, entramos na fase de educar.
E agora?
Agora é foda.
Tudo é influência. Cada palavra, cada gesto, cada movimento influencia. E eles percebem tudo. Principalmente o que você não percebe.
Sempre disse que eu fico maravilhado com o encantamento pelo simples que é inerente às crianças. Tudo é novidade. Tudo é absorvido. Só que agora, tudo é reproduzido também.
O processo de educação nunca é individual. É coletivo. É você se educando para poder educar.
É integral, é visceral, é constante e gradual.
Ao mesmo tempo, é curioso. Eu me enxergo em diversas atitudes do Luca. Alguns medos, algumas provocações, algumas vontades. Eu passei por isso tudo.
Então, ao mesmo tempo que você parece já ter sentido ou passado por isso tudo, é tudo novo e você não sabe ao certo como agir, o que fazer, o que falar. Quando agir, quando fazer ou quando falar. Como agir, como fazer ou como falar.
É difícil. Às vezes até assusta.
Mas então, você olha pro lado e vê que não está sozinho.
Então você está no meio de um debate sobre uma coisa que ele fez que não foi legal, totalmente sem jeito ou sem saber o que fazer e quando olha pro lado (no meu caso), lá está ela. Olhando, observando - julgando as vezes. Mas sempre presente e pronta para ajudar. Seja na firmeza, seja no carinho. Seja na risada que ela está dando nas costas do Luca e suas.
Aliás, às vezes o mais difícil mesmo é segurar a risada. Há momentos de crise que o nem o Luca mesmo sabe porque que ele está fazendo a birra, você já não sabe mais o que originou aquilo tudo, tenta acolher, mas o que vem mesmo é uma gargalhada. Então eu olho nos olhos da Isa, procurando conforto, ajuda ou uma luz e ela está literalmente gargalhando com os olhos. Se segurando pra não rir ali na nossa frente.
Agora somos 2 prendendo o riso. Sem poder demonstrar pra ele. Se não a tal “educação" vai por risada abaixo.
A gente lê por aí várias coisas, as quais concordamos em fazer juntos. Tipo não dar opção quando ele não tiver escolha/ não for negociável, ou ser mais incisivo com algumas coisas, ou simplesmente dar o valor que a situação merece, sem ficar remoendo ou retomando àquilo depois.
Mas chega na hora e o que sai é um “então se você não tomar banho não vai comer seu queijinho". Ou então, “ou você come esse brócolis ou vai ficar sem seu brinquedo".
Pois é. Isso vai contra o que acreditamos. Mas muitas vezes agimos assim.
Calma que piora. Ainda tem mais.
Essa semana eu dei um excelente exemplo. Do que não queremos fazer e fazemos.
Foi o seguinte. Pela manhã o Luca estava fazendo muito drama (olha que sou eu Felipe aqui escrevendo). Chorando por tudo, berrando, negando tudo, querendo e depois desquerendo as coisas. Foi intenso. Lá pelas tantas, após a Isa já ter sua paciência drenada e eu sem recursos, tentei distraí-lo com alguma outra coisa. Então quando eu estava no quarto dele, eu estava arrumando as coisas de forma diferente, separando cabides e fazendo coisas que ele nunca tinha visto.
Então eu falei "filho, quer ver uma coisa nova com o papai?", então, ele no auge de sua frustração por não saber o porquê de estar frustrado, disse apenas "não quelo papai". Então eu segui fazendo o que estava fazendo. Mas quando eu acabei, ele apareceu no quarto e falou "papai quelo ver a coisa nova papai!!".
Fiquei desesperado, pois agora na minha mente eu precisava cumprir a palavra, afinal "depois que fala que pode ou não pode, tem que fazer".
Mas não tinha mais coisa nova.
Minha solução brilhante, foi desenterrar um presente que havia guardado pra ele.
Ele adorou, foi ótimo. Ufa! A princípio, eu estava arrasando: cumpri com minha palavra!
Mas, a Isabella me chamou e disse: “você está maluco?? Ele fez birra a manhã inteira e foi recompensado com um presente. Parabéns, assim mesmo que vamos conseguir educá-lo."
Pois é. Parece óbvio, mas como a maioria das coisas óbvias, na hora passou despercebido, eu não enxerguei.
Assim seguimos diariamente. Às vezes um reage melhor que o outro, tem mais paciência, mais certeza, mais vontade. Mas sempre estamos ali, um para o outro. Isso é o mais importante, mais bonito e maior combustível disso tudo.
Mas eu tenho muita sorte. A Isabella é a minha companheira. Minha parceira, confidente, cúmplice. Minha maior ligação, minha melhor companhia, meu melhor encontro.
Ela é direta - às vezes demais -, ela é sincera - às vezes demais -, ela é objetiva - às vezes demais -, ela é tudo que eu, e principalmente nossos filhos, poderíamos precisar.
A Isabella é a pessoa mais incrível que eu conheço. Ela não para um segundo - às vezes isso é demais pra ela - e pensa em tudo e todos. Organiza a agenda, trabalha, amamenta, é mãe, existe. Não quero romantizar o esforço que ela faz. Quero apenas ressaltar como ela é dedicada à seus filhos, à sua vida e à mim. Sei que parte desse esforço, dessa necessidade de fazer vem porque talvez eu não saiba ou consiga fazer tudo que e quando preciso. Sei que erro às vezes e que muitas vezes quando eu não faço ou entrego, é você quem tem que fazer.
Meu amor, eu queria e quero fazer sempre mais por você. Assim como você faz diariamente por nós. Eu queria e quero te ajudar mais e mais. Quero errar e acertar diariamente com você.
É uma delícia traçar esse caminho ao seu lado. Como sempre digo, não é fácil. Mas independente da intensidade, sempre é mais leve por causa de você. A gente vai se entendendo, se descobrindo, se aprimorando, se cutucando e principalmente se apoiando em cada dificuldade, em cada sorriso, em cada dia novo, em cada fase nova.
Quero viver cada mudança de nossos filhos ao seu lado. Quero viver cada mudança sua ao seu lado. Quero viver cada mudança de apartamento, emprego e vida ao seu lado.
Mas a cada mudança, quero e sei que uma instância sempre irá permanecer: nós dois. Nosso amor.
Te amo amor.
Obrigado por todos os dias (e tardes e noites e madrugadas)
“- Filho, agora não é mais hora de brincar. Suas opções são: tomar banho ou jantar. É um ou outro!
E ele:
- Outro, mamãe. O outro.”
Gustavo, 2 anos (Frases de Crianças)