Criança Também Dança #57 l Avalanche
Escrevemos porque escrever é sempre melhor que não escrever, mas às vezes é difícil
Nossas últimas danças:
Criança Também Dança #56 | Hiato
Criança Também Dança #55 | Do monólogo à conversa
Criança Também Dança #54 | Vamos conversar?
Mais uma edição e agora o ano começou de vez mas nem tanto porque logo é carnaval. Entre filhos, um pai com dengue e nosso primeiro bloco de carnaval do ano (afinal, dengue não é motivo pra pai descansar, rs) voltamos. Essa edição poderia ser sobre o nosso vale night, mas um certo mosquito nos impediu de tal proeza. Que pais são esses que acham que tem o direito de se divertir com duas crianças pequenas em casa? Fiquem com a edição que nos foi possível escrever.
Só mais um pouquinho
Por Isabella Herdy
Tenho tido dificuldades para escrever. Primeiro porque perdi completamente o meu hábito. As minhas religiosas morning pages que escrevia senão todos, mas a maioria dos dias e com alguma constância desde que engravidei do Luca ficaram em um passado distante. Não tem como escrever morning pages quando você acorda do lado de um bebê que pode a qualquer minuto precisar de você e com a voz de uma criança inconsolável da cozinha pedindo tapioca seguido de ‘não quero tapioca’ - aos berros é claro - ‘mas quero mamãe’ e ‘quero a colher nova’, mas ‘não quero ovo’, enfim, essa criança que independente do que quer, e ela quer muito, já precisa de você.
Esse foi meu bom dia. Tem sido assim a maior parte dos dias com alguma variação de humor e de pedidos, mas não de demandas. As demandas são constantes. E vejam, isso não é uma reclamação, tampouco um desabafo. Por mais caóticas que essas manhãs sejam não há nada nelas que me faça querer outra coisa, talvez só cinco minutinhos pra tomar meu café em silêncio e em paz, mas quando paro e me vejo na situação, preciso admitir: eu gosto.
Eu gosto de mim, da minha cozinha, dos meus filhos, da minha família, da forma como contornamos a manha do Luca que só dura até a terceira garfada do que quer que seja seu café da manhã porque na verdade era fome.
Eu gosto do sorriso de canto de boca que a Mia dá e do olhar dela que denuncia uma idade pelo menos cento e cinquenta vezes maior do que seus pequeninos cinco meses.
De novo, eu gosto de mim, e talvez essa seja a melhor parte da maternidade. Eu gosto de mim sendo mãe.
Voltando, essa é uma parte do porquê estou tendo dificuldades de escrever, porque ser mãe de duas crianças, uma com dois anos e meio e outra com cinco meses, me demanda um bocado e no meio disso tudo fica difícil parar pra escrever. Mas essa parte é uma mentira deslavada e o tempo que eu passo no instagram e os quatro livros que li no primeiro mês desse ano denunciam. Se eu quiser, é só eu sentar e começar a escrever como estou fazendo agora, enquanto espero meu almoço esquentar.
Eu tenho tido dificuldades pra escrever porque não sei se quero colocar em palavras tudo o que se passa pela minha cabeça ou compartilhar aqui o pouco que eu consigo colocar em palavras.
Eu e Felipe às vezes fazemos aquele questionário Proust de perguntas pra conhecer a outra pessoa. É ótimo e é mais ótimo ainda fazer de tempos em tempos porque nossas respostas mudam. Fizemos com uma amiga duas semanas atrás. Na pergunta “o que considera a sua maior conquista”? Meu primeiro reflexo de resposta foi falar “minha família” como se eu devesse responder isso. Mas eu não devo nada. Então pensei melhor e respondi “a forma como eu equilibro as coisas mais importantes pra mim na minha vida. A minha família, o meu trabalho, a minha saúde, tempo pra mim e pras pessoas que eu amo”. A vida atropela. E só eu sei como ela tem me atropelado. Mas tenho me saído bem, eu penso, segundo meus próprios padrões que nesse caso são os únicos que importam.
E aí volto a minha dificuldade para escrever. Não o tenho feito porque sinto que o meu tal equilíbrio está por um triz e parar pra escrever é parar pra pensar na minha vida e consequentemente nisso. É como se eu estivesse vendo uma avalanche descendo a montanha, mas to preferindo olhar pro outro lado pra apreciar o por do sol, só por mais um instante. É tipo assim, eu sei que vai dar merda, mas enquanto não dá, deixa eu curtir só mais um pouquinho que a vida tem sido boa olhando pelo copo meio cheio.
Então fico por aqui. Curtindo o prazer que me preenche enquanto posso.
Não é fácil
Por Felipe Carvalho
Hoje na hora do almoço, eu olhei pra Isa e falei ‘não é fácil’. Ela me perguntou o quê. Eu disse ‘criar os filhos'. Ela só sorriu. Eu continuei ‘o tempo todo eu acho que estou fazendo merda’. Ela concordou, ‘eu também'.
Acho que tem sido mais ou menos por aí. Hoje mesmo, foi meu último dia de férias. Quando o Luca - e consequentemente eu - acordamos, eu estava sonhando acordando ‘ah, quero aproveitar muito bem essa manhã, sem pressa, sem me importar com horário de creche e nada…. Amanhã eu volto a rotina então hoje vou aproveitar com o Luca.’ Grande ilusão.
Foi mais ou menos assim: Luca acordou choroso às 6:30h. Fiquei ao seu lado como sempre, tentando acolhê-lo e fazer seu café da manhã. De repente, em meio as suas lamentações ele me olhou, me deu um tapa e saiu correndo pro quarto pra ficar com a Isa (que estava dormindo). Eu ainda tentei o persuadi-lo a voltar, pedir desculpas para que pudéssemos tomar café. Nada feito. Quem chorou fui eu, sozinho, com fome e sono no sofá da sala.
Respirei fundo, voltei para o quarto. Falei pra Isa - quase como se eu fosse a própria criança - ‘ele me bateu e não pediu desculpas’. A Isa, que não estava entendendo nada, nem tinha nada a ver com aquilo, fez o que eu e Luca gostaríamos de ter feito: continuou dormindo.
Em instantes estávamos nos quatro acordados e o dia seguiu como se nada disso tivesse acontecido. Tomamos café, nos arrumamos e fomos pra creche após cantar parabéns para a Mia, que completou 5 meses hoje. Poderia aqui falar o texto todo sobre a passagem do tempo, mas isso já é tema batido pra mim - e pra vocês.
Meu ponto hoje é sobre como a vida simplesmente acontece independente dos planos e ilusões que escolhemos para nos confortar. Não tem jeito, ela simplesmente acontece. O melhor a se fazer, é deixar levar. E tentar surfar a onda. Às vezes - quase sempre - tomamos um belo caldo. Mas só nos resta levantar e tentar pegar a próxima. Até porque se não já já vem outra onda e pra essa é melhor estar preparado.
Amanhã (hoje, para você que nos lê) eu volto a trabalhar e isso tem gerado uma grande angústia aqui em casa. Primeiro porque não vou poder ajudar a Isa com a Mia e ela já voltou a trabalhar. Segundo porque justamente quando você entra no mood férias, a coisa muda de novo de figura. Não tem jeito, não dá pra se acostumar. Ficamos onze meses por ano trabalhando e treze pagando boletos.
E aí, é só no final desse um mês que se tem livre que começamos a acalmar um pouco a cabeça, logo na hora que já está na hora de acelerar novamente.
Então, é melhor me preparar e já encarar esse swell novo com a cabeça erguida.
Antes de acabar, só queria fazer um adendo, que na minha cabeça faz sentido como complemento disso tudo. Acabamos de assistir o sensacional filme “Sociedade da Neve” e uma coisa ficou na cabeça. Dentre outras tantas coisas, eles sobreviveram porque cooperaram uns com os outros. Bastava um deles ter criado qualquer tipo de intriga que não haveriam sobreviventes. E é exatamente nesse espírito que temos levado as coisas aqui em casa. Apesar das avalanches diárias, seguimos juntos, de cabeça erguida e pés juntos nos aquecendo. E vamos pra mais uma.
🎵 Eu também quero dançar… dicas pro final de semana :)
Peça Ombela - a origem das chuvas - Teatro Ruth de Souza no Parque das Ruínas em Santa Tereza. Fica mais esse final de semana em cartaz (03 e 04 de fevereiro). Assistimos no último e está imperdível! Luca adorou, ouso dizer que Mia ficou ainda mais apaixonada que ele.
Bailinho com Zaquim - EcoVilla RiHappy - sábado, 03 de fevereiro - quem for deve nos encontrar por lá :)
Desfile Bloco Gigantes da Lira, General Glicério em Laranjeiras - domingo, 04 de fevereiro - também estaremos por lá!
Exposição Blow Up - até 03 de março - ainda não fomos, mas tá na agenda!
“Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar”
Paulinho da Viola