Criança Também Dança #59 l A tal da leveza
Um texto sobre um novo ano, a mesma vida, talvez, uma mudança de perspectiva
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O carnaval passou, agora sim, feliz ano novo! Bom, ano passado como vocês sabem - afinal fomos narrando por aqui - não foi um ano muito fácil. Por isso esse ano, de alguma forma e da maneira como for possível, me prometi ser mais leve. Não exatamente leve, acho essa palavra difícil pra quem já tem filhos, mas pelo menos tentar carregar um pouco menos do tanto que carreguei em 2023. O texto de hoje é sobre isso.
Carrego mais, sinto menos
Por Isabella Herdy
Em 2024 eu me prometi ser mais leve. E eu rezei pra ser mais leve. Eu rezei pra um Deus, que não sei exatamente qual ou quem. Eu rezei pra mim. Por favor, por favor, por favor, me deixa ser mais leve esse ano? Em 2023 eu carreguei pesos que eu não sabia se daria conta, mas dei. Afinal, também fui eu quem os escolhi.
Por isso me prometi, me prometi não, mais que isso, me implorei, por um ano mais tranquilo. Mesmo sabendo que não seria fácil e que em certa medida talvez não fosse possível. Mas talvez, só talvez, eu pudesse escolher sofrer menos, cansar menos, pirar menos e ser menos. E sendo menos, talvez, só talvez, eu pudesse ser o suficiente.
Alguém ouviu minhas preces. Talvez eu mesma. E tendo eu mesma me escutado, intencionalmente passei a cumprir minha própria profecia. Estou mais leve. Ainda que carregando o peso de uma nova vida que há pouco chegou e o dobro de responsabilidades.
Mia nasceu e como uma benção é bebê de presença tranquila e sorriso de canto de boca. Com os olhos de quem já percorreu muitas vidas e parece mais madura que a mãe, observa sua volta como quem diz: “calma, que tá tudo certo”.
Enquanto vive e deixa embasbacado o mundo que se apressa em prazos e tempos de trinta minutos, eu, que há cinco meses me sinto literalmente mais leve (afinal, ela saiu de dentro de mim), também vivo em gargalhadas observando o Luca que desde que aprendeu a tagarelar (porque como bom geminiano, ‘falar’ não dá conta do que ele faz), solta as pérolas e criancices mais engraçadas da sua existência. Como por exemplo: “mamãe, você não tá vendo que eu já sou criança?”
Fazem dois meses que o ano começou. Houve verão, férias, volta ao trabalho, pausa pro carnaval e mais trabalho. Houve sol e chuva, e assim, choros e risadas como tem de ser. Houve reuniões com criança pendurada no peito, chorando ao lado, ou só brincando. Houve organizações e reorganizações de agenda dignas de Marie Kondo pra bater reuniões importantes e tempo produtivo de trabalho com rede de apoio. Houve dúvidas, medo, insegurança e também movimentos do universo que me confirmam o caminho certo. Estou atenta aos sinais.
Se a chegada do meu primeiro filho virou minha vida de cabeça pra baixo, a chegada da segunda parece estar colocando a minha vida nos trilhos. Sou grata pela coragem, que relembrando clichês, significa “agir com o coração”.
Me sinto mais leve. Não por carregar menos, mas porque carregando mais, confirmo a mim mesma a história que escolhi contar.
“Três anos mudaram minha definição do que é normal, impossível, absurdo, distante, do que é força e fraqueza.”
Tamara Klink